Eu podia acordar de manhã e voar. Podia acordar antes do sol
nascer, abeirar-me da janela da varanda, empoleirar-me e lançar-me em voo do sétimo
andar, apenas para saciar a curiosidade cega que me invade sempre que uma
gaivota passa e fala comigo, sem me dizer para onde vai. Quero perceber o que
me diz. Quero que me diga onde vai. E se nada disser, então que me mostre os
labirintos aéreos que percorre. Os esconderijos marítimos que a albergam.
Eu quero voar sobre o mar. Sentir o sol quente a tocar-me
com os seus raios doirados, enquanto o brilho da água me encandeia e eu sorrio.
Quero rasar as águas calmas de um dia de Verão, até poder ver o meu reflexo bem
de perto. Até poder sentir o sabor do sal que as ondas fazem viajar até mim.
Eu vou voar ao anoitecer. Conhecer que recantos aconchegam o
sono dos pássaros. E, se lá couber, aninhar-me junto deles e dormir também. Num
sono leve de penas e silencioso de piares. Com a lua a desvelar-se em cuidados,
para que o sono de todos nós, suas criaturas, seja embalado por brisas suaves e
sonhos tranquilos.
Sem comentários:
Enviar um comentário