domingo, 18 de outubro de 2009

Saturday Night Fever

O espectro do silêncio pairava sobre as três cabeças haviam já alguns minutos. Cada um perdido nos seus devaneios. Cada um à deriva nas correntes dos seus pensamentos. Por largos minutos o único ruído era do motor do carro em que seguiam, e os levava a alta velocidade a um qualquer destino comum de diversão.

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Estou cansado… Queria tanto que ela me tivesse deixado em paz em casa esta noite, a ver um filme qualquer no cabo, deitado no sofá até dormir. Mas não, tínhamos que sair! Amarramo-nos a uma mulher, e perdemos a liberdade. Como tenho saudades de estar sozinho. Não acredito! A gaja que está atrás de mim está com o dedo enfiado no nariz… Ah ah ah ah ah ah!!! Não posso acreditar. Deve achar que como está escuro ninguém repara, mas esqueceu-se que pelo espelho retrovisor eu vejo-a!!! Ah ah ah ah ah!! Ricas amigas que a minha mulher arranjou. Há quanto tempo não vou beber uma imperial com os meus amigos… Janeiro, Fevereiro… Há quase um ano? Tenho que me impor, não pode ser assim. Estou a ficar um mole! Não tarda estou a transformar-me numa gaja também. Chega! A partir de amanhã isto acaba! Ou não me chamo João! …
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Estamos atrasados. Fiquei de ligar à Ana as 22.30 e já são quase 23.00. Enfim, vamos sair, é para nos divertirmos e conversar um bocado, não é para andarmos stressados… Logo lá chegamos. Bolas, na 6ª feira não confirmei com quem era a reunião de 2ª feira. Tenho que ligar para a Marisa amanhã de mnhã, ela deve saber, é sempre tão organizada! Eu gostava de ser assim, mas por muito que me esforce não consigo. O João está sempre a picar-me o miolo com isso. Ele é tão arrumadinho e organizado que até chateia. Desde que casámos que nos fartamos de discutir por causa disso. Tens sempre tudo desarrumado. Nunca te lembras de nada. Nunca sabes onde pões as coisas!!! Será que não se apercebe de quão irritante é? E não percebe que, arrumado ou não, eu faço sempre tudo o que é preciso quando é preciso? Bem, ao menos quando conduzo não faço o que ele está a fazer agora! Olha para esta ultrapassagem!!!! Se fosse eu, já estava a gritar comigo. Mas hoje a minha amiga está aqui comigo, não me apetece chatear, há tanto tempo que não a vejo. Mas a Filipa está muito calada hoje, estará triste? Parece que anda meio deprimida! Tenho que falar com ela…
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Mais uma saída. É suposto divertir-me, e sei que vou gostar de conversar com o pessoal. Mas amanhã de manhã acordo e vou estar deprimida, porque é Domingo e volto à mesma vidinha de sempre… Ao vai e vem sem outro propósito que não seja o ter dinheiro para passar os dias de vida que me restam rodeada pelas indispensáveis vacuidades materiais que me farão sentir tão insatisfeita como hoje, mas mais próxima do que é ser normal. Como eu gostava de não pensar. Abdicar do raciocínio crítico e viver sem pensar no significado de o fazer. Viver para o agora, não pensar no ontem nem no amanhã. Como invejo aquelas raparigas vazias, que ficam felizes com mais um par de sapatos e uma ida a uma festa qualquer. Ui, e esta comichão no nariz que não passa… Ainda bem que é de noite!!!...
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- Sabes para onde viro agora?
- Não, pensei que sabias. Mas não reconheço esta rua, está escura, não tem placa de nome. Já cá viemos mais vezes e não me lembro nada de passar aqui. Já te perdeste outra vez? Que espanto…
- E tu não tinhas ficado de pedir indicações à tua amiga? Porque não ligaste? Deixa-me adivinhar: esqueceste-te!...
- Não, mas não tenho saldo no telemóvel.
- Para variar, não é?
- Toma Mariana, usa o meu…
- Já viste isto? Estamos atrasados, perde-se, e agora diz que a culpa é minha…
- Não tem problema. Até no escuro, num sítio desconhecido, podemos passar um bom bocado!!! E ainda faltam tantas horas até ao amanhecer...