domingo, 24 de janeiro de 2010

Desejado retorno...

O despertador toca. Ainda nem abri os olhos, e já um arrepio me percorreu a espinha. O retomar da mesma incessante rotina anuncia-se. Segunda-feira. Outra vez…

Ainda mal abri os olhos e já pus os pés no chão frio. Passam a vida a dizer-me que um dia hei-de adoecer por causa de tão mau hábito, mas a verdade é que esta é a única maneira que tenho de acordar rapidamente para a realidade, quando os doces laços do sono ainda me puxam na direcção dos lençóis macios e da fofa almofada.

Meia dúzia de passos desequilibrados depois e estou na casa de banho, em frente ao espelho a observar, ainda através da turvescência matinal, um rosto marcado por vincos impressos pela almofada, uns olhos marcados por papos e olheiras e um cabelo que parece impossível de desembaraçar. Começa a primeira dura etapa de me transformar novamente numa mulher aprazível ao mundo.

Agora já mais apresentável, enfio-me dentro da roupa que separei na véspera. Mas um ruído aquoso vindo da rua faz-me questionar se estará a chover. Terei que adaptar a roupa a mais um dia chuvoso de Inverno? Já mais à pressa, porque o tempo passa a correr, dirijo-me à janela e abro as cortinas. E… estranho…!

Ao contrário do que é habitual àquela hora numa segunda-feira, a rua está inesperadamente vazia. Apenas duas senhoras idosas passam debaixo da minha janela, encolhidas pelo frio matinal. O amola tesouras passa na sua bicicleta, com a sua música de encantar pingos de chuva. De tempo a tempos passa um carro, invulgarmente devagar para aquele dia da semana. Os cafés estão ainda fechados ou vazios.

Olho novamente o relógio: 7.58. Não entendo. Àquela hora a rua costuma estar entupida de carros que passam velozmente, transportando os seus donos a caminho de mais um dia de trabalho. As pessoas habitualmente amontoam-se na paragem de autocarro, serpenteando rua acima numa fila interminável. Os cafés estão usualmente cheios de apressados clientes que vão tomar o pequeno almoço ou o primeiro café da manhã, como se a cafeína pudesse tornar menos doloroso o facto de ser segunda-feira.

Mas nada disto acontece. Tudo está diferente nesta segunda-feira.

Um som metálico ao longe. Repete uma, duas, várias vezes. O sino da Igreja! Mas não é aquele o toque que chama as pessoas para as celebrações dominicais?
Cada vez mais baralhada, penso no dia anterior. Será que me enganei? Não, ontem foi Domingo, ontem fui jantar com a família, como em todos os Domingos. Ontem fui passear pela praia, apesar do frio, porque estava mais um daqueles deliciosos dias solarengos de Inverno. Mas e então, o que se passa?
Lembro-me de ligar a televisão. Na maioria dos canais apenas desenhos animados. Num deles, a transmissão das costumeiras celebrações religiosas dominicais. Até o teletexto marca “Domingo”… Mas como?

Dou por mim entre a confusão e a esperança de que as minhas sempiternas preces de que o fim de semana se prolongue tenham sido atendidas. Mas como posso saber? Bem, há sempre a hipótese de estar a enlouquecer…

De repente uma ideia surge: ligar para o escritório. Se realmente for segunda-feira, a esta hora já dois ou três colegas terão chegado e me atenderão, e saberei que é para lá que tenho que ir. Senão, apenas um segurança me atenderá…

Ainda incrédula (como e que é possível???), marco o número e aguardo. O silêncio é interrompido por ritmados bips. Um. Dois. Três. Quatro. E é uma voz masculina que me atende. Peço para falar com o meu colega. E a voz do lado de lá responde: “Minha senhora, aos Domingos ninguém está cá. Talvez seja melhor tentar ligar para cá amanhã.” Despeço-me atabalhoadamente, sem me identificar e, meio atordoada desligo e poiso o telefone. É Domingo. OUTRA VEZ!!!!

Olho novamente pela janela. Nem sinal de segunda-feira.
Após alguns minutos de hesitação, é a sensação de que o milagre efectivamente aconteceu que prevalece. É mesmo Domingo !!! Já com um sorriso, dispo a roupa que já tinha vestido, visto novamente o meu pijama, fecho as janelas e deito-me na minha cama, bem embrulhada nos cobertores e bem aninhada na almofada. Tomara que não seja segunda-feira quando voltar a acordar…
História escrita por mim para a Fábrica de Histórias