quinta-feira, 13 de setembro de 2012

14º Campeonato de Escrita Criativa - Desafio #3


“Chuta!”…”Passa a bola, também quero jogar!!!”…”Remata agora! Boa!”… “Golooooooooooooo”

Sob o luar, três meninos jogam à bola. Três crianças de pedra, centenárias, por quem o tédio passa, mas não a idade. Três meninos cansados da sua imobilidade pétrea. Cansados de serem os guardiões da taça superior da fonte do Rossio. Três meninos que, depois de percorrer a cidade, jogam um último jogo de futebol, antes da magia terminar.

Do alto da fonte observavam o Rossio, apesar de não se conseguirem ver uns aos outros e apenas fugazmente se tocarem. Companheiros seculares. Todos os dias observavam o vai vem dos carros e das pessoas, o deambular dos vagabundos e os percursos erráticos dos turistas, ávidos de levar consigo toda a magnificência daquela praça dentro das suas máquinas fotográficas. Comentavam entre si este ou aquele comportamento mais estranho ou um traje menos usual dos que passavam por ali. E riam com gargalhadas cristalinas de criança. Mas o riso era fugaz, porque o tédio sobrepunha-se a tudo. No fundo de todos eles, fervilhava a inconfessável inveja da liberdade de todos os que os rodeavam…

Até que uma noite, enquanto sonhavam com o que fariam se durante três dias pudessem sair dali, um deles viu uma estrela cadente e pediu um desejo. Liberdade. Por três dias. Fê-lo em voz alta e, mal se calou, o luar incidiu sobre eles e brilhou com uma intensidade invulgar. Aos poucos, começaram a mover-se. Lentamente, por entre rangidos e estalidos, começaram a mover os braços, os pescoços, as pernas... Os outros habitantes da fonte ficaram boquiabertos e sussurravam de espanto. Instantes depois, já os meninos estavam no chão, mirando-se, tocando-se e rindo, ainda sem acreditar no que acontecera. Não podiam perder tempo. Tinham apenas três dias.

Percorreram as ruas da cidade, subiram ao castelo e viram o rio pela primeira vez. Completamente transformados em meninos de carne e osso, fizeram amigos entre as crianças que foram conhecendo, falaram com comerciantes de rua e sem-abrigo, entraram em elétricos e autocarros, viram os aviões no aeroporto, descobriram jardins e lagos e deram de comer aos patos. Passeavam sem rumo pela cidade que agora viam a uma nova escala.

“Deixa a bola, temos que regressar!”, “Venham, rápido, temos que voltar a subir!”, “Vamos!!!”

As férias terminam. Todas as criaturas de pedra de volta à velha fonte. Os três meninos novamente em casa, ainda com o mundo a brilhar nos olhos…



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