Fevereiro. Aproximara-se a passos de gigante o momento que tanto receara e aí estava ele. O terror de um coração recentemente maltratado. O dia de São Valentim. Que ainda por cima calhava no Domingo de Carnaval. O resultado: duas festividades vilmente estragadas.
Apesar da chuva anunciada, o dia amanhecera solarengo, e já vários casais se passeavam pela rua com os seus rasgados sorrisos, aninhados, a exibir enjoativamente a sua paixão, por entre famílias com pequeninos zorros e damas antigas a saltitarem de um lado para o outro.
Pensou para si que tinha duas escolhas. Ou ficava em casa, deprimido, em frente à televisão, à espera que o dia acabasse, ou arranjava companhia de um dos seus poucos amigos solteiros, para sair e fingir que já ultrapassara a crise, que na verdade parecia ainda mal ter começado. Ai como o apelo do sofá era sedutor…
Enquanto cedia a este apelo, as já vistas e revistas imagens dos momentos felizes da sua relação amortalhada passavam-lhe diante dos olhos. E a velha dor teimava em não o deixar respirar.
Sempre gostara do Carnaval. Não apenas de vestir uma máscara, mas de experimentar novas personagens, viver novas vidas. Começava a preparar o Carnaval já na passagem de ano, já a escolher cuidadosamente uma personagens, investigar hábitos, comportamento e costumes e a pensar em vestimentas adequadas. Depois, quando o Carnaval chegava, durante quase uma semana transformava-se. Mas este ano, perdera toda a inspiração.
Embora não fosse sem um sentimento de revolta que chegava a esta conclusão.
Que direito tinha aquela mulher de lhe tirar mais esta alegria? Porquê, depois de tanta coisa que perdera, de tanta dor? Teria que passar a vida a sofrer?
Foi esta cintilância de revolta dentro de si que o fez saltar do sofá. Era S. Valentim, mas também era Carnaval, a melhor época do ano.
Subiu as escadas até ao seu quarto, vasculhou por entre o baú em que guardava os seus disfarces antigos. Esvaziou o baú. Mas nada parecia servir. Queria ser este ano algo que não era. Algo que o desafiasse. O que é que mais queria ser, acima de tudo?
Feliz.
Era esta a resposta.
Era essa a sua máscara para este ano. Seria aquilo que há meses não era. Mascarar-se-ia de pessoa feliz.
Olhou-se ao espelho e ensaiou um sorriso. Os primeiros saíram pouco convincentes. Mas aos poucos, pareciam já quase naturais. Quase sentidos. Como se de facto viessem de dentro.
Quanto à roupa, bem, já que há tanto tempo que desconhecia a leveza da felicidade, até a sua roupa poderia servir. Ainda assim, estaria a vestir-se de algo que não era.
Com o melhor sorriso que conseguiu esboçar, já estava “vestido a rigor”. Saiu à rua.
Sempre que passava por alguém, sorria. E à medida que o ia fazendo, parecia cada vez mais fácil sorrir. Cada vez que alguém o cumprimentava, cumprimentava também. Com a sua recém-ensaiada alegria.
Para não passar o dia a vaguear sem rumo pela cidade, resolveu ir ao café de sempre, onde sempre se encontrava com os amigos. Ali era quase como estar em casa, mesmo que estivesse sozinho.
Sentou-se, junto à montra, e ficou a olhar os carros que passavam nas ruas, e as pessoas que aproveitavam o sol gélido daquele dia para passear antes que chovesse. E entretanto continuava a exercer o seu sorriso. Para as caras conhecidas que o rodeavam. Para o empregado do café. Todos.
Não se apercebeu que alguém se aproximava da sua mesa, pelo que se sobressaltou quando uma voz feminina desconhecida se aproximou de si.
- Estava dali a observá-lo à uns minutos. Peço desculpa. Mas não pude deixar de reparar no seu sorriso. Importa-se que me sente aqui consigo. Eu sei que parece ousado, mas…
- Parece ousado, mas o que seria do mundo sem um pouco de ousadia?... Por favor sente-se. Adorava ter companhia.
“Sobretudo no dia de hoje” – pensou, mal acreditando naquilo que acabara de acontecer. Demasiado surreal para ser verdade…
Apesar da chuva anunciada, o dia amanhecera solarengo, e já vários casais se passeavam pela rua com os seus rasgados sorrisos, aninhados, a exibir enjoativamente a sua paixão, por entre famílias com pequeninos zorros e damas antigas a saltitarem de um lado para o outro.
Pensou para si que tinha duas escolhas. Ou ficava em casa, deprimido, em frente à televisão, à espera que o dia acabasse, ou arranjava companhia de um dos seus poucos amigos solteiros, para sair e fingir que já ultrapassara a crise, que na verdade parecia ainda mal ter começado. Ai como o apelo do sofá era sedutor…
Enquanto cedia a este apelo, as já vistas e revistas imagens dos momentos felizes da sua relação amortalhada passavam-lhe diante dos olhos. E a velha dor teimava em não o deixar respirar.
Sempre gostara do Carnaval. Não apenas de vestir uma máscara, mas de experimentar novas personagens, viver novas vidas. Começava a preparar o Carnaval já na passagem de ano, já a escolher cuidadosamente uma personagens, investigar hábitos, comportamento e costumes e a pensar em vestimentas adequadas. Depois, quando o Carnaval chegava, durante quase uma semana transformava-se. Mas este ano, perdera toda a inspiração.
Embora não fosse sem um sentimento de revolta que chegava a esta conclusão.
Que direito tinha aquela mulher de lhe tirar mais esta alegria? Porquê, depois de tanta coisa que perdera, de tanta dor? Teria que passar a vida a sofrer?
Foi esta cintilância de revolta dentro de si que o fez saltar do sofá. Era S. Valentim, mas também era Carnaval, a melhor época do ano.
Subiu as escadas até ao seu quarto, vasculhou por entre o baú em que guardava os seus disfarces antigos. Esvaziou o baú. Mas nada parecia servir. Queria ser este ano algo que não era. Algo que o desafiasse. O que é que mais queria ser, acima de tudo?
Feliz.
Era esta a resposta.
Era essa a sua máscara para este ano. Seria aquilo que há meses não era. Mascarar-se-ia de pessoa feliz.
Olhou-se ao espelho e ensaiou um sorriso. Os primeiros saíram pouco convincentes. Mas aos poucos, pareciam já quase naturais. Quase sentidos. Como se de facto viessem de dentro.
Quanto à roupa, bem, já que há tanto tempo que desconhecia a leveza da felicidade, até a sua roupa poderia servir. Ainda assim, estaria a vestir-se de algo que não era.
Com o melhor sorriso que conseguiu esboçar, já estava “vestido a rigor”. Saiu à rua.
Sempre que passava por alguém, sorria. E à medida que o ia fazendo, parecia cada vez mais fácil sorrir. Cada vez que alguém o cumprimentava, cumprimentava também. Com a sua recém-ensaiada alegria.
Para não passar o dia a vaguear sem rumo pela cidade, resolveu ir ao café de sempre, onde sempre se encontrava com os amigos. Ali era quase como estar em casa, mesmo que estivesse sozinho.
Sentou-se, junto à montra, e ficou a olhar os carros que passavam nas ruas, e as pessoas que aproveitavam o sol gélido daquele dia para passear antes que chovesse. E entretanto continuava a exercer o seu sorriso. Para as caras conhecidas que o rodeavam. Para o empregado do café. Todos.
Não se apercebeu que alguém se aproximava da sua mesa, pelo que se sobressaltou quando uma voz feminina desconhecida se aproximou de si.
- Estava dali a observá-lo à uns minutos. Peço desculpa. Mas não pude deixar de reparar no seu sorriso. Importa-se que me sente aqui consigo. Eu sei que parece ousado, mas…
- Parece ousado, mas o que seria do mundo sem um pouco de ousadia?... Por favor sente-se. Adorava ter companhia.
“Sobretudo no dia de hoje” – pensou, mal acreditando naquilo que acabara de acontecer. Demasiado surreal para ser verdade…
História escrita por mim para a Fábrica de Histórias
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